A
temática da circulação das ideias e dos saberes vem mobilizando a comunidade
científica internacional, interessada em decriptar a nova paisagem histórica,
tecnológica e mental inerente às profundas mutações destas últimas duas
décadas. Inspiradas em novos paradigmas epistemológicos (das “identidades mundializadas”,
da “historicidade” dos objetos, da pluralidade das abordagens), em novas grades
de leitura (interacionismo, história cruzada, transversalidade...), as ciências
humanas e sociais, em geral, e a história intelectual, em particular, se
propuseram a pensar os fenômenos da mundialização do conhecimento, a
partir das temáticas de deslocamentos,
de transferências de ideias e de reconfiguração dos saberes. Evidentemente, o
caráter transversal destes objetos de estudo, permitiu ultrapassar as
fronteiras disciplinares e nacionais. Para além da pluridisciplinaridade,
necessária à colaboração entre disciplinas e pesquisadores, a
interdisciplinaridade se revelou fundamental na elaboração de problemáticas e
de paradigmas comuns.
Tendo em vista a interpenetração intensa
dos modelos culturais e dos sistemas de referência comuns, como interrogar a
singularidade das ideias e dos modelos
intelectuais “locais”? Como apreender as chamadas “transferências
culturais” sem levar em conta as diferenças em termo das ordens do tempo e do
espaço; em outras palavras, a historicidade própria aos diferentes espaços
culturais? Como pensar, diante das transformações géopolíticas (e
géo-econômicas), o parâmetro centro/periferia? Como ultrapassar a problemática
da mobilidade das ideias e dos saberes, indo além do método crítico e
heurístico (para a história intelectual) das “transferências culturais”?
Se a teoria das “transferências culturais”,
possibilitando o abandono de um quadro epistemológico da historiografia
nacional, abriu espaço para os estudos multilaterais, envolvendo os processos
de inter-relações (intercâmbio, exportação, importação, apropriação, recepção
de ideias, de modelos, de valores), por sua vez, sua metodologia se
revelou insuficiente. Não permitindo
apreender o contexto da reconfiguração do objeto transportado, as
“transferências culturais” reforçaram “as aporias incitadas pelas perspectivas
nacionais pre-estabelecidas”, segundo um dos seus especialistas.
Ora, esta nova etapa de análise (empírica e
reflexiva) - a reconfiguração do saber - constitui um desafio às pesquisas
atuais das ciências humanas e sociais. Como pensar a relação entre as
disciplinas (e áreas do conhecimento) e os saberes constituidos? Se, as
“transferências culturais” analisam os mecanismos de circulação das ideias
entre diferentes espaços científicos internacionais, como analisar a
reestruturação do novo objeto transplantado?
Tendo por objetivo dar sequência aos
diálogos, iniciados com pesquisadores estrangeiros, sobre “produção, circulação
e transmissão das ideias e dos saberes”, em 2011, esta jornada de estudo propõe
reunir um pequeno grupo de pesquisadores (nacionais e estrangeiros), das
ciências humanas e sociais, que vêm trabalhando com esta problemática
interdisciplinar. Nosso interesse, na organização das mesmas, reside no
intercâmbio de conhecimento, no debate de ideias e no avanço metodológico e
epistemológico de nossas pesquisas. Pelo próprio caráter do evento - jornada de
estudo – os objetos a serem apresentados
(pelos participantes convidados) se inscrirão em 5 eixos temáticos. As
jornadas se destinam a um público restrito (especialistas e alunos da
pós-graduação).
EIXOS GERAIS DE TEMÁTICAS:
1 -
cartografia das ideias e saberes (no século XXI e ao longo de uma época
precisa); “os clássicos”;
2 – mundialização do conhecimento:
circulação de conceitos e de paradigmas teórico-metodológicos; a virtualização
dos saberes;
3 – “transferências culturais”:
exportação/importação; apropriações, traduções, deformações;
4 – saberes reconfigurados: a relação das
áreas de conhecimento com os saberes, as mutações de paradigmas intelectuais; a
institucionalização de modelos “técno-liberais” na avaliação da produção
acadêmica;
5 – mediadores do conhecimento: instituições,
publicações, individuos;